sexta-feira, 11 de maio de 2018

CRÔNICAS

Tanto medo. Medo de amar outra vez. Medo de entregar meu coração mais uma vez. Por isso o amarro, amordaço, ponho coleira, focinheira, seguro com as duas mãos e os pés fincados na areia. Por medo, também, de que meu coração teimoso não me obedeça. Ele é forte e insistente, tenta ladrar e não consegue, então grita no silêncio abafado de um grunhido. Faz força para se soltar das amarras e correr ao encontro — ou reencontro — do amor.

terça-feira, 27 de março de 2018


Você nunca mais será amada dessa forma.
Leia mais uma vez. Deixe a frase ancorar, fazer sentido.
Você nunca mais será amada dessa forma.
A incessante necessidade do toque, do contato físico. Acaba.
O constante chamar, o querer dividir todas as mais simples, minúsculas coisas: 

"Olha o que eu consigo fazer, mamãe!". 
Acaba.
Você nunca mais será amada dessa forma.
O cobrir todas as noites antes de dormir, os pezinhos que te escalam durante as refeições, os beijos molhados pós-banho. Isso acaba.
Você nunca mais será amada dessa forma.
Os pulos na sua cama, o corpo que vira pista de carrinho, os giros de dança que bagunçam o tapete da sala, o pentear dos cabelos úmidos. Acaba.
Você nunca mais será amada dessa forma.
Os sanduíches às sete da manhã de domingo, os desenhos debaixo das cobertas, o abraço na madrugada após um pesadelo, o contar histórias. Acaba.
Você nunca mais será amada dessa forma.
Esse amor, a vontade de estar tão perto que às vezes nos sufoca. Acaba.
Você nunca mais será amada dessa forma.
A verdade é que quando os filhos são assim, pequenos, é a fase da vida em que nossa adoração é quase que recíproca. Mas passa. 
Eles crescem e cresce a necessidade de viver outras histórias, outras pessoas, outros sonhos. 
É a lei da vida, o caminho certo, é saudável. Mas ainda assim, mesmo sabendo que criar asas é um dos atos mais lindos da maternidade, ver voar é um “doce amargo”. 
Será sempre a alegria mais estranha que já se ouviu falar. Uma felicidade diferente que, ao chegar, forma buracos. Um misto de vazio com a sensação de missão cumprida.
Ver voar é aplaudir cada conquista, mas ainda querer sentir as mãozinhas pequenas que te agarravam pelas pernas. É se orgulhar, apoiar, mas com um eterno gostinho de saudade. Saudade do tempo que passou. 
Saudade de ter os filhos sempre ao alcance dos olhos. E acima de tudo, saudade dessa fase. Desse amor. Esse que você tem agora, tão próximo, palpável, bem aí ao seu lado.
Por isso, quando o chamar, o tocar, o pedir, quando tudo estiver te levando à beira de um colapso nervoso, lembre-se: você nunca mais será amada dessa forma.
Texto do livro 60 Dias de Neblina da autora Rafaela Carvalho




segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Que paz dar no coração


Dá-me a graça de sentir o Teu perdão
Pois sozinh'eu não consigo perdoar
Tu que sondas o meu coração, Senhor
Sabes, pois, que ainda não sei amar
Quantas vazes odiei, Senhor Jesus,
Magoei quem mais devia amar
Não aceitei desculpas nem perdão
De todo ódio que eu senti, liberta o meu coração

Perdão, Senhor, perdão (2x)
Transforma o meu coração de pedra
Num vaso de amor... de amor

Obrigado por tudo Senhor